Não descanse, militante
Curioso esse novo meme: “Descansa, militante”.
Sim, estamos todos cansados e, como repete Macunaíma, “Ai que preguiça”.
Mas, de todos os cansaços, porque querer justamente que descanse “o militante”?
Por que não se criou o meme “Descansa, racista”?
Por que não se fala em “Descansa, polícia que mais mata no mundo?”
Por que não “Descansa, patrão que precariza o trabalho”?
Por que não “Descansa, feminicida”?
“Descanse, fascista”?
Por que o militante tem irritado mais as pessoas do que quem mata mulher, do que quem é racista, do que o patrão explorador, do que o fascista?
A quem interessa que o militante descanse?
A resposta óbvia são esses grupos citados.
Mas é uma segunda resposta que mais chama atenção aqui.
As pessoas que não sofrem com esses grupos que se beneficiam com o descanso com a militância querem é seguir as suas vidas. Deixar de lado as vítimas.
O problema é quem, confortável, não está nem aí para quem não está confortável.
As pessoas que, tendo acesso à sombra e água fresca, não pensam nos que não têm.
As pessoas do “cada um por si” . Da meritocracia.
Dos que só enxergam o Brasil que se pareça com o primeiro mundo.
Mesmo sabendo que, nos países de primeiro mundo, o maior sinal de desenvolvimento é justamente a quantidade de militantes todos os dias atentos. Todos os dias dispostos.
A crítica melhora o mundo. O sujeito “chato”, incansável, que não dorme tranquilo enquanto o mundo não for justo, é responsável por todos os avanços da sociedade humana.
O militante é, hoje, o que separa o Brasil da barbárie absoluta. Do fundo do poço.
Não descanse, militante.
Porque é tudo o que querem os que fizeram do Brasil um país miserável.
Não descanse, militante.
Porque é tudo o que querem os descansados.