Ava Duvernay irá reunir cineastas negros brasileiros em live
Muita gente fala mal do fenômeno das lives, que explodiu após a quarentena nas principais cidades do mundo. Mas, como lembrou Jean Luc Godard, que aos 89 anos fez ontem uma live no instagram, ele vê o fenômeno como a possiblidade de cada um ter o seu canal de TV. O que traria, como a internet trouxe, o pior e o melhor da humanidade.
Fiquemos, hoje, com o melhor.
O coletivo ARRAY, fundado pela cineasta Ava DuVernay, realizadora da série “Olhos que condenam”, vem fazendo lives regulares reunindo gente preta de todo o mundo para ouvir e ser ouvida.
Amanhã, quinta-feira, dia 9, a vez será dos cineastas negros brasileiros serem reunidos para falarem ao mundo. Reunidos pelo coletivo de Ava, dez mulheres e um homem, todos com obras importantes e histórico de luta por igualdade de direitos no mercado áudio-visual, falarão, em inglês.
E é justo falarem em inglês. No Brasil, fora ações parecidas do próprio movimento negro, parece não haver interesse em sequer perceber que há realizadores pretos.
Voltemos, portanto, ao pior da humanidade.
No Brasil, parece não haver interesse em perceber que há pretos.
Nem mesmo de muitos pretos. Que não querem, como aqui no blog já dito, perceber-se como pretos.
Quando há interesse, não é no preto como ser humano, e sim como objeto de expurgo de culpa. Vota-se em um preto para vencer o BBB e dorme-se com a consciência tranquila, com a certeza do dever cumprido.
Enquanto seguiremos vendo reality shows onde participantes revelam como o Brasil pensa: “Eu sou super contra julgar alguém por conta da cor da pele, isso não existe. Mas ficar usando disso eu não concordo. Até porque, isso não é malefício nenhum. Você ser preto? Pelo contrário, quanto mais morena eu fico, mais eu gosto. Eu gosto de ficar no sol”, declarou uma das participantes desta edição do Big Brother.
Será que nossa salvação são os pretos americanos?
Que a luta de todos os negros magistralmente compilado por Nei Lopes no seu livro”Afro-Brasil reluzente: 100 personalidades notáveis do século XX” (Nova Fronteira).
Nos EUA, os movimentos de supremacia branca, por existirem até hoje fora da clandestinidade, sem esconder-se forjou a personalidade e união dos movimentos negros de lá.
Nunca é demais lembrar que não existe um único movimento negro, nem um pensamento unificado entre negros, o que é postitivo. O blog Quadro-negro é colaborativo porque quer atentar para este fato. Negros não pensam e não devem pensar igual.
No Brasil, os movimentos de supremacia branca atuam nas sombras, ou com nome de empresas de varejo, ou com nome de partidos, ou com nomes de igrejas, ou como nome de movimentos “Por Deus e Pátria acima de todos”.
Então, negros, aqui, por vezes, ficam confusos à respeito da existência o ou não de racismo no Brasil.
Enquanto a maioria da população branca tem certeza de que não há racismo, como a participante do BBB que adora se bronzear.
Amanhã, esta live de iniciativa norte-americana, pode nos iluminar sobre este e tantos outros assuntos, que em tempos de “normalidade”, não dávamos atenção.
Amanhã, é dia de dizer que nunca mais queremos esta “normalidade” de volta.
Essa espécie de realidade bronzeada em que vivemos.