Dia de Ogum revela masculinidade frágil de Moro e Bolsonaro

Nas regiões sudeste e sul do Brasil, dia 23 de abril comemora-se o dia do orixá Ogum. O deus da iniciativa e força masculina.

As religiões de matriz africanas não são apenas religiões. São, também, sistemas filosóficos. Há essa sofisticação na cultura que vem do continente africano: Não separar saberes. Entendê-los como interligados e interdependentes.

Portanto, não existe, de fato, masculino e feminino. Não são coisas separáveis. Foram separadas há relativamente pouco tempo, 7 mil dos 50 mil anos de existência do ser humano civilizado.

Quando surgiram a ideia das religiões centradas em apenas um deus, masculino. Por trás dela, a vontade de estabelecer o mercado. Zoroastrismo, judaísmo, cristianismo e islamismo foram, na prática, religiões fundamentalistas, imperialistas: dispostas a impor sua verdade a outros povos nem que fosse na base do ferro. A verdade de uma masculinidade frágil.

Ogum é o deus do ferro. De todos os orixás, o mais masculino, o mais forte.

Mas o que é força? E, mais: O que é força masculina?

Não sabemos. E boa parte de nossa ignorância vem do fato de não recorrermos à filosofia e ciência de culturas originais dos continentes africanos.

Quem se vale desta sabedoria ancestral, sabe o que é força.

Sabe, há milênios, a parábola de Aksumita, atual Eritreia, uma das mais antigas da humanidade, popularizada pelo cineasta russo Andrei Tarkovsky quando iniciou seus estudos, nos anos 70, em História e Filosofia africana. Tarkovsky conta em seus diários o encontro com o diretor senegalês Djibril Diop Mambéty que lhe contou:

“Quando o homem nasce, é fraco e flexível; quando morre é impassível e duro. Quando uma árvore nasce, é tenra e flexível; quando se torna seca e dura, ela morre. A dureza é atributo da morte; a flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser. Por isso, quem endurece, nunca vencerá.”

Dia de Ogum é dia em que refletimos sobre a força do que nós, incultos, chamamos de fraqueza.

Bolsonaro venceu a eleição. Sérgio Moro venceu o destino do anonimato. Ambos, se bem pesquisados no youtube, vemos o que eram dez anos atrás: profissionais toscos e de incompetência reconhecida por seus próprios pares (especialmente interessante  e estarrecedor para um estudante de direito é ver Sérgio Moro exercendo sua profissão).

Mas, o que os dois de fato venceram? Sobraram, para compor o governo Bolsonaro, toda a sorte de profissionais ressentidos em suas áreas porque reconhecidos como incompetentes nela. Foi assim que Roberto Alvim foi parar na Cutura, foi assim que Paulo Guedes foi parar na economia. E, na falta de ideias, ou de quem de bom senso quisesse se alinhar-se com um governo de homens fracos, foi-se de Olavo de Carvalho, o intelectual que impressiona apenas a que não lê dez livros por ano, como Bolsonaro. Ou não lembra dos últimos livros que leu, como Sérgio Moro.

Ogum, o orixá do progresso, insatisfeito com a fraqueza destes homens de masculinidade frágil, homens duros, secos e fundamentalistas, lamenta o que vê.

Ou comemora. Talvez, por implosão, e antes do que se espera, o fim da era dos homens fracos eleitos para posições chave para o país.

Ogum quer ver o país voltar a crescer e se desenvolver. É o Orixá que prepara terreno para isso.

Do jeito que estamos, está sem tem o que fazer desde que Bolsonaro assumiu e montou seu time trapalhão.

Quem está em quarentena desde janeiro de 2017, é Ogum.

Orixá que, além de tudo, não tem paciência para quem está não só nos impedindo a caminhada, mas nos fazendo recuar.

Masculinidade, para Ogum, é outra coisa. Encontrada em homens e mulheres, inclusive.

Não isso aí que vemos todos os dias noticiado em nossa editoria de política.

Não esse atraso.

Ogunhê.