Transe nos Estados Unidos do Brasil

Antes de se chamar República Federativa do Brasil, nosso país chamou-se (da proclamação da república, em 1889, até 1968) Estados Unidos do Brasil. 

Hoje, tanto quanto ontem, parecemos habitar mais essa tentativa de imitação complexada e corrupta dos Estados Unidos da América do que um país original, com personalidade própria.

Quem acompanhou a série documental  “A máfia dos tigres”, sucesso em 2020 e que mostra os aspectos radicalmente toscos do povo estadunidense, já entendeu as similaridades. E, como na série, assiste atônito ao cotidiano dos dois países.   

A popularidade dos presidentes que minimizaram a pandemia que já matou mais de cem mil mortos segue estável. Os dois “Estados Unidos”, parecem serem governados por anjos da morte. Aqueles que, cercados da destruição que patrocinam, são vistos por parte da população como anjos.

A natureza parece responder com pragas e pestes, incêndios e queimadas.  

E ainda sim, os arautos seguem estáveis em popularidade. Enquanto os EUA mantém mais tigres em cativeiro do que há livres em todo o planeta, outro incinera suas onças.

Muito já se falou na “banalidade do mal”.

Em 2020, nos dois “Estados Unidos” vivemos é a estabilidade do mal.

Os seguidores dos atuais presidentes dos dois países seguem protagonizando seu show de horrores. Em frente a um bar lotado no Leblon, Rio de Janeiro, um grupo sem máscara de proteção contra a pandemia briga. Um homem arranca o biquini de uma mulher.  Em um restaurante caríssimo no Jardins, São Paulo, herdeiros ricos, durante briga, ameaçam um ao outro denunciá-los a delegados com quem mantém esquema. 

– O meu delegado é da Polícia Federal! – Gritou um dos homens, exibindo sua corrupção.

A estabilidade do mal.

Caso perca as eleições presidenciais, Donald Trump ensaia preparar um golpe. Aqui, as consequências de um golpe bem ensaiado levou um deputado medíocre e despreparado à presidência. 

Lá, vamos para o sexto dia de protestos contra a decisão de não incriminar ninguém pelo assassinato de Breonna Taylor, mulher preta morta a tiros em operação da polícia de Louisville, Kentucky. Aqui, vamos para o quinto dia de protestos de brancos contra a decisão do Magazine Luiza em lançar um programa de trainee só para negros.

Somos todos estadunidenses.

E enquanto uma versão alternativa melhorada de nós teima em resistir, enquanto LeBron James leva os Lakers à final da NBA e Gal Costa faz 78 anos, comemoramos a descoberta da probabilidade de vida em Vênus e o GIF animado que fizemos com fotos de um buraco negro a milhões de anos luz de distância.

Quem parece estar a milhões de anos luz de distância de qualquer coisa somos nós.

Os estadunidenses.