Mulheres negras como Kamala Harris são o futuro da política

Dezenas de milhares de anos atrás, quando a humanidade se organizava de forma mais justa e igualitária, mulheres negras ocupavam espaço principal de poder.

Nada mais justo e lógico.

Quem é capaz de melhor criar e administrar uma sociedade? O tipo de ser humano mais preparado, com maior vivência e experiência em gerência de grupos, em tempos de crise e violência, alguém que tenha vivenciado ser mulher e ser negra, no mundo.

Mas, com o tempo, criamos essa civilização aí. Patriarcal, do homem branco infantilizado, de masculinidade frágil, caráter gelatinoso e inapto aos ofícios fundamentais da vida prática.

Os homens com alguma inteligência procuram aprender com a mulher preta. No Brasil, temos o sucesso das obras de Djamila Ribeiro, a reabilitação da obra de Lélia Gonzalez, o reconhecimento de Conceição Evaristo, a eternidade de Marielle Franco. Nos EUA, Jon Biden formou par com Kamala Harris, que acaba de tornar-se a primeira mulher negra vice-presidente. Lá, o primeiro passo rumo à possibilidade de viabilidade da humanidade foi dado.

Só seremos viáveis se voltarmos a empoderar politicamente mulheres negras.

Nas eleições dos EUA, a política negra Stacey Abrams, é a grande heroína destas eleições estadunidenses. Com sua campanha de conscientização de negros da Georgia à respeito da importância do voto, transformou o estado, tradicionalmente conservador, escravocrata, em um estado azul, democrata, consciente.

Biden é apenas um detalhe. Esta eleição foi sobre quantos estadunidenses estão dispostos a resistir ao impulso supremacista e fascista dos estadunidenses que encontraram em Trump um representante de destes impulsos degenerados.

Não à toa, pesquisas não conseguem registrar previamente quem vota em Trump. As pessoas têm vergonha de declarar seu voto. As pessoas têm vergonha de admitir que são racistas. Ou na antológica frase de Trump: “Eu sou a pessoa menos racista desta sala”.

No Brasil, similaridades. Nunca tantos negros se candidataram às eleições. Nunca tantas mulheres negras se apresentaram como candidatas à câmara de vereadores. Aqui, os brasileiros também têm vergonha de se declararem publicamente, em pesquisa, bolsonaristas. De admitir que são contra a corrupção apenas dos adversários; dispostos a concordar com a corrupção dos seus. O fazem apenas sob a proteção do anonimato nas redes sociais ou das manifestações antidemocráticas de rua pelo fechamento do Congresso e do STF porque sabem que o establishment, a polícia, na rua, os dá proteção.

E as diferenças. Aqui, mesmo a esquerda ainda é reticente com a presença de mulheres negras em cargos de poder.

A direita, não se comenta. É a barbárie de oportunistas como Bolsonaro, o homem que nunca imaginou ser presidente, ou Rodrigo Constantino, o estudante que nunca imaginou conseguir um emprego. Veio a onda conservadora, estes homens infantilizados (que em condições normais de momento histórico, teriam dificuldade em conseguirem emprego) a surfaram, e estão aí, a desfrutar a mamata deste surfe, bradando sobre um recorde de desempregados brasileiros, todos eles mais capazes do que Constantino, do que Bolsonaros.

Oportunismo: o mesmo serve para os veículos de comunicação que contrataram, durante os anos PT, estes “Mad Dogs”, como jornalistas e articulistas, para gerar visualizações, e para os eleitores que votaram em Trump, este outro “Mad dog”.

Quando o mundo é cão, o mundo é dos oportunistas.

A luta entre a intenção em termos uma civilização madura, ou uma barbárie infantil está, portanto, começando. Sim, luta. Dos 70 milhões de votos a favor de Trump, muitos são de seres humanos que compartilham das não-ideias, dos não-pensamentos, do futuro ex-presidente. Aqui, dos admiradores de Constantino que propõem boicote ao Outback por conta de sua retirada de patricínio a veículos de imprensa que publiquem suas basbaquices, muitos estão aí, caminhando nas ruas, anônimos, como fossem capazes de articular um raciocínio para além do pensar em si mesmo.

Trump e Constantino vão embora. O ser humano fraco a quem eles falam, ficam.

É mais fácil ser cachorro-louco, ou admirador de cachorros-loucos. Fraqueza é aderir ao que é mais fácil. A humanidade não é conhecida exatamente por sua força. A mulher negra, por conta do que a vida lhe exige, sim. É capaz de ir além da fraqueza dos que não admitem mudanças.

Porque é ela, a mulher negra, a própria mudança.

Joe Biden tem idade avançada. Será um presidente de transição para um novo período de governos democratas. Kamala Harris será candidata, vencerá as próximas eleições e será a primeira presidenta negra dos EUA.

Nada mais justo e lógico.