A história da foto definitiva sobre consciência negra

Consciência não é uma palavra inventada por negros.

Vem do latim, conscientia.

Mas sabedoria, sim. A palavra ngangu, de origem bantô, significa sabedoria muito antes do latim ter sido inventado.

Os saberes mais antigos da humanidade vêm do continente Africano. Alguns, não envelhecem.

Muito pelo contrário. Alguns são atuais e mais necessários hoje do que nunca foram.

Coluna passada, aqui, uma adolescente negra de 15 anos de idade convidada a escrever, citou, em seu texto sobre racismo no Brasil, 4 pensadores e filósofos que a maioria dos leitores nunca havia ouvido falar.

Pois eurocêntrico é o nosso interesse. Eurocêntrico é o nosso saber.

Menos rico, mais arcaico, é o nosso saber.

Ocidentais não sabem tanto quanto pensam que sabem.

O saber que vem do continente africano é o antídoto.

Todo o descendente carrega este saber em seu DNA. Foi assim que Érique Batista, fotógrafo negro, baiano, teve uma ideia, ao se ver confrontado com a imposição do saber eurocêntrico da escola onde estuda seu filho, Arthur. Uma professora que sugeriu que o pai, para homenagear  o Dia da Consciência negra, fizesse uma foto do filho caracterizado de… Saci Pererê.

Sim, foi o que pensou a professora do saber eurocêntrico.

Érique fez como se faz em África: para tentar ensinar à escola que deveria estar educando seu filho, usou o mais poderoso instrumento educativo jamais inventado pela humanidade.

A arte.

Fez a foto que ilustra este texto.

Seu filho, Arthur, menino negro, com roupa de ir para a escola, livros e cadernos na mochila, sentado em um banco, no calçadão à beira do mar. Contemplando o horizonte.

Contemplando a liberdade, contemplando o futuro. O oceano de oportunidades que toda a criança tem o direito a ter.

E para além do oceano, o continente africano.

A imagem do menino Arthur, ali, sentado, recusando-se a fantasiar-se de qualquer um dos estereótipos que impuseram a nós, negros, lembra-nos duas coisas. Uma, que olhamos para o futuro, porque esse é nosso direito. Não damos o gosto ao opressor de perdermos nossa esperança.

A segunda mensagem ali é que nossa luta é para que sejamos vistos como pessoas. Destas que estudam desde cedo e se tornam, advogados, médicos, ou poetas, fotógrafos.

Se consciência é luta, lutamos para que todos tenham a consciência de que temos o direito de sermos o que quisermos ser.

O vídeo onde pai e filho conversam sobre a gênese da ideia da foto viralizou nas redes.

É tudo o que você, seja a cor de pele que tenha, deve ver junto com a pessoa que você ama.

Porque nhangu, sabedoria, também quer dizer amor.

Para as culturas do continente Africano, não há distinção: Sabedoria é amor.

Por isso, esta é a foto que define o que seria consciência negra.

Seria pouco dessa palavra latina.

Seria mais nhangu.

Como se, acima de tudo, marcássemos não só o Mês da Consciência Negra.

E sim o Mês da sabedoria negra.

Sabedoria, essa coisa de pai e filho.