O negro é lindo

O título desta postagem é uma paráfrase a uma canção que Jorge Ben Jor compôs e lançou no ano em que nasci. Desde que nasci, o mundo vive dizendo que o negro não só não é lindo, mas como em países supremacistas brancos como o Brasil, o negro é indesejável, vale pouco. Que sociedade trata assim os descendentes diretos dos ancestrais da própria humanidade? Qual é o papel da mídia nisso? Uma coisa é certa. Não é publicando apenas as notícias do genocídio por qual passamos que podemos ajudar. É preciso fazer com Jorge Ben Jor. Nos lembrar que o negro é lindo. Rodrigo França, dramaturgo convidado do Quadro-negro, conta uma história diferente da que consumimos todos os dias. O negro é lindo.

 

Como se estabelece consciência negra? – Por Rodrigo França

Consciência negra se estabelece no reconhecimento de uma luta histórica. E é nosso dever ancestral publicitar os resultados dessa luta, a partir dos quais percebemos que a responsabilidade das vitórias está naqueles e naquelas que muitas vezes sucumbiram para que tenhamos sucesso. A estrada é longa, pois ainda estamos aquém do que almejamos e merecemos. É preciso frisar isso, para que não caiamos no discurso meritocrático e ratifiquemos uma falsa simetria: a exceção como regra.

Estamos há séculos cobrando representatividade em todos os espaços. O protagonismo é necessário, porque ele é poder. E é preciso que sejamos senhores e senhoras da nossa narrativa. O protagonismo que evidenciamos nesse texto vem da água, vem de jovens que estão subvertendo dilemas raciais, sociais e de gênero.

Antes, era conhecido como nado sincronizado, mas, desde 2017, quando mudou o ciclo dos Jogos Olímpicos, foi alterado para nado artístico. Em 1984, época em que era exclusivamente praticado por mulheres atletas, ganhou status olímpico nos Jogos de Los Angeles. Em 2018, o Campeonato Carioca de Nado Artístico teve o primeiro conjunto masculino da América do Sul, composto por Fabiano Ferreira, Kennedy Lima, Leonardo Fernandes e Joel Barbosa, uma equipe majoritariamente negra.

Vivemos em uma sociedade racista, machista e homofóbica, onde é definido que o homem deve performar a sua masculinidade a partir de um determinismo social violento, bruto e estereotipado, o qual estabelece um comportamento nocivo ou restritivo aos próprios homens ou às pessoas que estão ao seu redor. Imagina um homem negro que normalmente é hipersexualizado e tem a sua masculinidade exposta, coisificada e objetificada. Para o senso comum social, “meninos devem jogar futebol ou fazer luta”, mas esses jovens estão subvertendo essa lógica.

Não poderíamos deixar de citar Anna Giulia Veloso, solista em campeonato mundial, e as irmãs Carolina e Gabriela, que, com apenas 14 anos, já são medalhistas e colecionam pódios.

A cultura Yorùbá nos ensina que “ancestralidade é passado, presente e futuro”. Nós que estamos nesse tempo seremos ancestrais de alguém, assim como aqueles e aquelas que ainda não nasceram. Os jovens atletas negros já deixam um legado para meninos e meninas que fazem parte da generosa fatia de 56% da população brasileira que se autodeclara negra.

Sim, temos, ainda, muito que lutar e resistir, mas também devemos comemorar o existir das nossas potências, sendo elas do passado ou do presente.

Voem, aliás, nadem!