EUA 2021, Brasil 2013

Não há perigo de acontecer, no Brasil, algo como o que aconteceu no congresso americano. O perigo, aqui, é de acontecer pela segunda vez.

No dia 20 de junho de 2013, vândalos depredaram e colocaram fogo no Itamaraty, em Brasília, ameaçando a democracia brasileira.

Imediatamente, um grande portal brasileiro de notícias estampou em suas páginas a seguinte manchete: “Grupo tenta invadir Palácio do Itamaraty e é repelido pela polícia”.

Vândalos tornaram-se “grupo” nenhuma menção a um temor a nossa democracia.

Nesta quarta, 6 de janeiro de 2020, no canal de TV pertencente ao mesmo portal, ouviu-se de uma comentarista: “Washington não aguenta mais um dia como hoje: com vândalos depredando prédios públicos, ameaçando a democracia americana”.

No Brasil, todas as instituições, inclusive a imprensa, têm seus momentos gelatinosos.

De causar inveja a imagem, já mundialmente famosa, do vândalo estadunidense fantasiado de búfalo dentro do congresso.

Lá, gado veste-se de gado.

Aqui, veste terno e vai apresentar programa de rádio famosa transmitido pelo Youtube.

Ontem, os EUA conheceram muito do 2013 brasileiro. Estava em Washington D.C. o Batman do Leblon, os anti-política que querem fechar o congresso, os que parecem terem saído de um bloquinho de carnaval da Zona Sul, os armamentistas, os infiltrados, os terraplanistas.

Um vídeo que mostra a própria polícia abrindo o capitólio para manifestantes já corre as redes, lembrando a suspeita facilidade que, em 2013, com a qual os vândalos invadiram o Itamaraty.

No Brasil que dois anos atrás, lia-se editoriais como o já antológico “Uma decisão difícil”, que vendia a imagem de Bolsonaro como uma pessoa equilibrada.

Apoiadores de Bolsonaro já começam a articular 2020. Um apoiador do astrólogo Olavo de Carvalho escreveu em sua rede um texto precioso, que nos ajuda a entrar na cabeça exótica dessa gente:

“Na última hora, Trump foi abandonado pelos juízes que indicou ao Supremo, pelo seu vice, por seu partido, por inúmeros integrantes do seu governo… Só teve ao seu lado aquele núcleo duro e, principalmente, o povão americano. São lições que o Presidente do Brasil, se não aprender rapidinho, encontrará uma situação muito pior para si em 2022.”

Bolsonaro sabe que já foi derrotado. Trump também já sabia, antes das eleições. Mas resolveram apostar nas origens escravocratas na qual fundam-se as configurações de poder nestes países: conclamar a elite perdedora na urna para contestar os votos do povo.

Não há perigo de acontecer, no Brasil, algo como o que aconteceu no congresso americano. O perigo, aqui, é de acontecer pela segunda vez.