No dia D, na hora H, Bolsonaro irá temer a Deus
Eclesiastes 12:14.
Nelson Cavaquinho.
No dia D, na hora H, o presidente deste país há de tornar-se competente, honesto e se útil. Quem sabe até fazer o bem.
Desculpas para já não estar fazendo o bem, não há. Poder, tem. Em janeiro de 2019, Bolsonaro foi empossado presidente da República. Aparelhou ministérios, destruiu outros, favoreceu aliados, família, tentou transformar o filho Eduardo, que mal sabe falar inglês, em embaixador nos EUA. Empossou um chanceler que, além de ser também dono de um débil domínio da língua falada nos Estados Unidos, raciocina como uma criança que ainda não desenvolveu pensamento próprio.
Com o poder nas mãos, Bolsonaro aproveitou-se desta imaturidade de seus apoiadores e foi pra cima: governou para os poderosos. Concedeu nossa floresta aos donos de terra, retirou direitos de trabalhadores favorecendo o patronato, protegeu parentes e amigos que estavam na mira da polícia, e mentiu, foi desonesto quando disse que não disse que a Covid-19 era uma gripezinha.
Com o poder nas mãos e adultos infantilizados o apoiando, fez de tudo: xingou, desrespeitou, incitou ódio, foi machista, misógino e preconceituoso.
Sabendo ser o país da impunidade, cometeu tudo o que podia, enquanto a imunidade do cargo lhe protege.
Exaltou a coragem de torturadores que durante a ditadura militar enfiavam ratos em vaginas de mulheres amarradas e corriam de medo quando na rua encontravam com algum integrante da guerrilha armada.
Montou o que apressadamente, e com uma dose de má-fé, foi chamado pelo mercado de “equipe ministerial competente”. Rimos de nervoso.
Quando Jair Bolsonaro assumiu, tinha tanto poder que colocou na pasta da economia o equivalente a um astrólogo. E ainda recebeu aplausos.
Hoje, eu, você e o mercado já sabemos que Paulo Guedes está para a economia como Olavo de Carvalho para a filosofia.
Saiu a estrela do PT, entraram os especialistas em estrelas no céu.
O nome disso é poder.
Com o poder, Bolsonaro fingiu fazer o que em anos como deputado nunca fez: fingiu trabalhar. Para os que o apoiam, inventou que os resultados de seu trabalho não eram vistos por culpa do: 1) Governo anterior 2) Da mídia golpista 3) Do congresso que não o apoia.
Não demorou e fez aliança com o centrão, grupo de partidos que concentra a maior parte dos processos por corrupção na história da república. Para obter maioria no Senado, quer hoje aliar-se até ao PT, que jurou a seus eleitores ser o grande inimigo do Brasil. Nas últimas eleições municipais do estado miliciano do Rio de Janeiro, onde construiu sua primeira base eleitoral, apoiou Crivella, um candidato que na véspera Natal foi preso por corrupção. Um pastor temente a Deus.
Em seu governo, todos os índices pioraram. Violência contra a mulher, contra os negros, desigualdade social, desemprego, fuga de capitais. O título deste texto deveria-se chamar “No dia D, na hora H, Bolsonaro irá se tornar competente”.
Mas competente ele é. Foi eleito pelo establishment para fazer suas vontades. Transformar o Brasil em uma mistura do que de pior tem a Venezuela, os Estados Unidos e a Coréia do Norte, como pudemos notar, nas últimas semanas, pelo comportamento da mídia que o apoia, e pelos escândalos de corrupção com o chamados blogs sujos que fazem, bem… como dizer… o trabalho sujo. O que os robôs não deram conta nas redes sociais.
Definitivamente, o que falta a Jair Bolsonaro não é competência. Jair é muito eficiente em favorecer os poderosos, os patrões que reclamam hoje, por exemplo, da possibilidade de mais um lockdown para proteger da Covid-19 o empregado que se vê obrigado a enlatar-se em transportes públicos.
O que falta a Jair Bolsonaro é o falta aos pastores como seu aliado carioca Marcelo Crivella, que consegue a proeza de ser religioso, rezar, dormir tranquilo, enquanto, segundo a polícia, rouba do povo.
O que falta a Jair Bolsonaro é o que sobra a qualquer cristão.
O que falta a nosso presidente é temer o Deus que ele diz, mas não parece, crer.
Eclesiastes 12:14.
Nelson Cavaquinho.