Atração do BBB 21 será a divergência entre negros

Não foi mais de uma vez que, na vida, ouvi, de amigos, a seguinte frase:

“Você deve conhecer o fulano. Ele, como você, mora no Rio de Janeiro e é preto.”

Como se todos os pretos se conhecessem, e frequentassem todos os dias uma espécie de centro de convivência de negros.

Como se todos os pretos formassem um coletivo monocórdico. Concordassem em tudo.

Fosse assim, teríamos a essa alturauma história política com 3 ou 4 presidentes negros, porque votaríamos em conjunto.

Não. Não somos um coletivo monotônico. Não venham nos reduzir a um.

Os últimos três anos notabilizaram-se por certa imposição do Brasil real, preto, sobre o país inventado, branco, ou pintado de branco, como durante todo tempo foi Machado de Assis.

Obrigamos o Brasil eugenista a nos ver. E ao nos ver, perceber que não somos redutíveis.

Não concordamos entre nós.

No Twitter, isto fica evidente o suficiente. Há algo chamado “Black Twitter”, um grupo informal de infuenciadores negros que compõem um sistema ecológico autônomo, que funciona sem precisar, por exemplo, do reconhecimento ou da repercussão na mídia tradicional para funcionar.

Ou também desfuncional. As tretas do “Black Twitter”, além de divertidas, nos ensinam mais sobre o Brasil do que a maioria do que é escrito hoje na maioria da mídia tradicional.

A produção do BBB entendeu isso. Porque, no ano passado, entendeu que as redes sociais são um realtiy show, e que o caminho para sua sobrevivência nestes tempos é passar a fazer parte deste universo.

Hoje, o BBB, como a Fazenda, Masterchef, De Férias com o Ex e The Voice, faz parte de um universo chamado rede social.

Não é exagero entender que a sobrevivência e sucesso do BBB no Brasil foi ter se transformado no maior e mais influente perfil de rede social da internet brasileira.

Como o “Black Twitter”, com suas personalidades e opiniões fortes, sobre assuntos fundamentais para o país é, em sua forma-treta, o que há de mais substancial entretenimento em nossas redes sociais, o BBB resolveu trazê-lo para dentro, selecionando uma quantidade recorde de gente preta como participantes do programa.

E, como previsto pela produção pro programa, já tornou-se assunto do “Black Twitter”, que neste momento já ferve em discussões entre gente preta.

Ótimo. Quanto mais gente preta ocupar os assuntos do brasileiro, melhor. Se for tretando, mostrando que somos polifônicos, que são infinitas as questões que temos para resolver, melhor.

Já passamos tempo demais discutindo, em nossa cultura pop, o que os estadunidenses chamam de “Problemas de pessoas brancas”.

Que venham as black tretas.

Que venha o Black Brother Brasil.