Ao reconhecer vilania de Lucas, negros do BBB mostram a força do axé do grupo

Escrevemos nesta coluna, antes do BBB 21 começar. A quantidade recorde de negros na edição iria expor o óbvio. Somos polifônicos, não concordamos em tudo. Não formamos uma massa uniforme que existe e metaboliza a experiência de ser negro da mesma forma. Negro iria brigar com negro. E isso seria uma das atrações do jogo.

Lucas Penteado entrou na casa mais vigiada do Brasil com a proteção que Neymar Jr. recebe da internet. “Menino Lucas”, já sugeriu para Karol Konká, o papel de mãe, a Projota o papel de tutor, a Nego Di de irmão de corre.

Na primeira festa, assediou a participante Kerline e, montou uma narrativa que convenceu até a própria de que ele era vítima. Falou de Stalin. Teria sido expulso, se o BBB fosse em Portugal.

Porém, vivemos no Brasil, um país onde o racismo se dá de jeito ainda mais perverso. Tem-se o medo de se ser racista em público, forja-se a impressão de que estamos vivendo em uma sociedade menos tolerante com o racismo, justamente para, na vida prática, normalizar o racismo. No último dia 27, três meninos pretos desapareceram em Belford Roxo,  periferia do Rio de Janeiro. Desta vez, meninos mesmo. 8, 10 e 11 anos. E o Brasil seguiu falando de leite condensado.

Por conta do medo do cancelamento, os participantes brancos se acovardaram. Precisou uma mulher preta, a incrível Camila de Lucas, a pessoa mais inteligente do grupo, uma das mais inteligentes participantes da história do BBB ouso cravar, para que fosse entendida a armadilha na qual todos os negros estavam caindo.

A velocidade com a qual, na festa da noite de ontem, o povo preto do BBB detectou, se organizou e isolou Lucas, sem antes não deixar de dar-lhe últimas chances, foi exemplar.

Há participantes do programa que professam religiões de matriz africana. Lucas, após demonstrar profundo desconhecimento de candomblé e da umbanda e, pior, de Xangô, orixá que o participante alega ser seu principal protetor, seguiu insistindo em exercer o papel do esquerdomacho militante alfa. Aquele que objetifica mulheres e não as deixa falar. Um desastre para a imagem de nós, negros, e de nós, seguidores de religiões de matriz africana.

Muito se usa a palavra Axé. Pouco se procura saber do que se trata. Axé é a energia que sustenta todas as coisas que existem, neste mundo e no mundo-fora-do-mundo. Uma pedra tem o seu axé, um pássaro tem o seu axé, uma pessoa tem o seu axé.

O mundo tem matriz africana. Ou seja, todas as crenças, ciências e filosofias derivam das crenças, ciências e filosofias africanas. Iansã, ao ser traduzida na cosmogonia grega, tornou-se Afro-dite. Podemos ver o conceito de Axé aplicado na cultura pop na série “Star Wars”. Quando um Jedi deseja “que a força esteja com você”, ou que em personagem xis “a força é forte”, onde lemos força, lê-se axé.

Quando o nosso axé está alto, ficamos mais sensíveis ao que acontece ao redor. Ficamos mais justos. Ficamos mais ágeis. O axé dos negros participantes do BBB está alto. Com justiça, agilidade e sensibilidade, Lucas Penteado foi ouvido e julgado.

Ponto para o povo preto. Se os participantes brancos tivessem a mesma energia, o outro “menino”, da casa, o cantor Fiuk, também já teria, lá dentro, também sido detectado como vilão.

O axé que falta aos brancos do BBB 21, sobra aos pretos.

Agora é  saber como está o axé do telespectador.