‘Liga da Justiça’ de Zack Snyder é ainda pior que versão de 2017
Uma vitória dos fãs, uma derrota do cinema.
Quando foi anunciada a produção do “Snydercut”, versão do filme “Liga da Justiça” desta vez na visão de Zack Snyder, seu diretor original, houve quem comemorasse. Afinal, adolescentes mimados pelo poder que as redes sociais lhes conferem exigiam este novo filme.
Há uma nova geração de espectadores. Caracterizada por querer assistir o mais do mesmo, não explorar novos horizontes nem pontos de vista.
À medida que a recente de ouro do cinema de super-herói tomava as telas ressignficando aos poucos regras que remetem a Grécia Antiga, o diretor americano surgiu com um cinema infantil, careta, retrógrado, com uma embalagem que obedece os dogmas do mainstream da publicidade, das peças de propaganda.
É isso que “Snydercut”, que entra em cartaz no Brasil nesta quinta-feira, 18 de março de 2021 é. Uma peça de marketing do serviço de stream HBO Max, ainda não disponível no Brasil.
Quando a pandemia ameaçou paralisar toda a produção audiovisual, as empresas correram para seus acervos, suas latas de lixo, e não economizaram para reciclá-los a título de material novo. Não houve, na verdade, mérito algum de fã. Muito menos de Snyder.
Foi mérito da crise.
“Snydercut” é um belo exemplo desta crise. Filme feito para meninos a assistirem 10 min por dia em tela de celular enquanto fazem suas necessidades físicas no vaso sanitário e sua mãe o chama para ir para escola.
Muito mais parecido do que esperávamos com o filme de 2017, dirigido por Joss Whedon, “Snydercut” traz como única diferença genuína o formato 4:3, quadrado. Economia de um dinheiro investido que chegou a 70 milhões de dólares (o que o departamento de marketing julgou ser suficiente para, com o filme, arrecadar assinaturas ao HBO MAX.
Não há muito o que dizer do filme que já não tenha sido dito em 2017. Há mais momentos constrangedores aqui: a cantoria dos aldeões para Aquaman e a introdução do personagem Flash, ganharam agora tons ofensivos para quem gosta de quadrinhos. Uma mancha capaz de envergonhar os verdadeiros artistas desta indústria já tão restrita a um público.
Os fundos de tela verde em muito lembram o humorístico Hermes e Renato. O Zeus que aparece no segmento “senhor dos anéis” deste filme em que tudo é imitado de algo, parece um integrante do BBB.
Pretende-se aqui ter um filme de aventura. Mas em momento algum há senso de perigo. De que os vilões podem de fato fazer algum mal. Snyder filma muito mal. Parece o menino mimado que constitui a maioria de seus fãs.
Cyborg, o super-herói negro do grupo, ganha aqui papel de destaque, mas, dentro de um filme tão infantil, é difícil cravar o que sobressai por ser bom ou simplesmente por não ser péssimo.
Uma vez o mestre inglês Alan Moore, genial autor de quadrinhos que à sua revelia, e ocasional mago juramentado, foram adaptados para o cinema, como “V de Vingança” e “A liga extraordinária”, amaldiçoou Zack Snyder pela ridícula adaptação de “Watchmen”, considerada o “Cidadão Kane”. Desde então Snyder não teve vida fácil. Sua família foi marcada pela tragédia (o suicídio de sua filha), e profissionalmente quase acabou com o universo DC nos cinemas, deixado com açúcar e afeto, aclamados por público e crítica pelos “Batman” de Christopher Nolam.
Mas agora, finalmente sai de cena. Passa a fazer filme de zumbis em serviço de streaming.
Mas pode voltar. O poder do dinheiro a tudo corrompe. E nossos adolescentes estão dispostos a, antes mesmo de assistir o filme que entra hoje em cartaz, fazer campanha por uma continuação.
De um filme de super-herói que tem a ousadia de não ter conseguido criar um personagem pelo qual nos importássemos.
Não, única coisa que o cinema se importa é que, após 5 anos, finalmente iremos parar de falar de “Snydercut”.
Herói é quem chegar até o fim deste filme de 4 horas de duração, sem rir de sí próprio, que caiu em estelionatos como a participação de Jared Leto e seu Coringa.
Os heróis não estão na tela, não.
Heróis são os fãs de “Liga da Justiça” – Versão Zack Snyder.
O mais longo video de youtube na história.