13 de maio, o nosso primeiro de abril

13 de maio é o dia mentira. E não está-se aqui falando exatamente da abolição de uma escravatura que apenas sofisticou-se quando assinou-se a lei áurea.

Está-se falando no dia da formatura, da colação de grau, do Brasil.

Metade do que somos é consequência de termos construído aqui o maior porto escravagista da história da humanidade. Cais do Valongo, Rio de Janeiro.

Nossa formação.

A outra metade, é o que fizemos com os sobreviventes e fazemos com os descendentes dos sobreviventes desta barbárie.

Nossa formatura.

A miscigenação enfraqueceu nossa identidade: A maioria dos negros no Brasil não se considera negro.

A falta de identidade nos enfraqueceu o foco: Quase trinta mortos, quase todos pretos, no Jacarezinho. Assassinados por policiais quase todos pretos.

A falta de foco enfraqueceu nossa capacidade de união: Os jogadores Neymar e Lucas Moura, negros, criticaram publicamente uma jornalista da CNN Brasil que posicionou-se contra a ação da polícia no Jacarezinho. Enquanto moradores pretos da comunidade protestavam nas vielas da comunidade, contra a chacina, outros moradores, também pretos, comemoravam a possibilidade de o território ser agora sim ocupado pela milícia.

A falta de capacidade de união enfraqueceu nossa percepção do todo: A milícia carioca é uma versão sofisticada da Ku Klux Klan estadunidense. Sofisticada porque, tendo o mesmo objetivo, a milícia consegue um feito: o apoio e a participação de negros.

A falta de percepção do todo enfraquece a ciência de nosso valor:  Nos vemos como fracos. Nos vemos como falta.

“O jovem entra para o tráfico porque quer”, sentencia o preto policial.

Os negros escravizados não vieram para o Brasil porque quiseram.

Perseverarmos aqui, escolhendo permanecer negros, isso sim é o maior signo de força, isso que configura o que de forte ainda existe em nossa sociedade.

A força e da presença dos negros em nossa sociedade é o único predicado que temos hoje.

As faltas e fraquezas são atributos dos que escravizam e depois marginalizam.  E dos negros que são vítimas da cooptação para uma vida confortável.

A vida de quem aboliu a própria consciência.

Este é o Brasil que chamamos de país. Fraco. O Brasil que nunca dará certo.

A única possibilidade viável de nação está hoje, dia 13 de maio, nas ruas, em atos públicos, em marcha, lembrando que hoje é o dia em que o Brasil consolidou-se como a terra da mentira.

A terra da abolição da consciência.