Friends, versão branca de série negra, tem especial de retorno similar a painel de Comic-con

Apenas neste século chegou-se a um consenso na indústria de que Friends, o fenômeno cultural que encerrou a década de 90, é de fato cópia de uma série de comédia chamada Living Single: em tudo idêntica, mas protagonizada, por negros.

A série original, criada pela roteirista negra Yvette Lee Bowser, hoje conhecida por produzir Dear White People, da Netflix, foi ao ar de 1993 a 1998. Friends, sua versão com brancos, estreou em 1994 e foi até 2004 e foi exibida em 78 países, alcançando mais de um bilhão de espectadores ao redor do mundo.

Prometia-se, para a estréia do catálogo de Friends na HBO MAX, muita emoção em um episódio especial, onde o elenco original reuniu-se. Mas reuniu-se para quê?

Na prática, para nada diferente do que vemos nos talkshows americanos. Tudo muito roteirizado. Cada construção de tentativa de espontaneidade, esbarrou no excesso de profissionalismo que a pasteurização da TV dos anos 90 trouxe para a tela.

Tudo pareceu-se muito com um painel de uma Comic-con, onde não se faz muita questão de esconder o interesse financeiro da coisa, e se mascara tudo o que for humano no show. Os atores estão ali cumprindo compromissos profissionais. E só.

As sequelas do grave problema de dependência química de Mathew Perry, intérprete do personagem Chandler, devidamente escondidas em cortes muitos rápidos, um mínimo de falas, e um posicionamento estratégico no sofá onde o elenco se apresentou.

O estado de Perry, embora bem escondido, é o principal obstáculo para uma volta de fato do seriado.

Mas, como em todo painel de Comic-con, diversão não faltou. Especialmente os erros de gravação rendem bons sorrisos.

No show, em depoimento, uma jovem negra de Gana, fã do seriado, diz o quanto as personagens de Friends a inspiraram a entender que a mulher pode e deve ter autonomia em suas decisões profissionais e afetivas.

Fãs de todo o mundo, incluindo LGBTQIA+, também versaram à respeito da importância da série. Deixou-se as questões tóxicas, também emuladas da série Living Single, de lado. Deixa a polêmica pro textão de internet, onde cada minuto não vale milhões, como no caso do especial de Friends.

Amigos. Essa série que, como sua original preta, é sobretudo sobre jovens que no fim das contas descobrem que a família consanguínea só serve para atrapalhar.

Em Living Single e Friends, pais e mães são o que em roteiro chama-se de conflito. Um obstáculo a ser superado e ao fazê-lo trazer desenvolvimento pessoal para o personagem.

A grande contribuição destas séries, foi prever o ocaso da família tradicional.

Coisa que a nova geração já entendeu.

E por conta disso, também abraça as duas séries, junto com seus fãs originais, hoje acima dos 40.

Se a geração anterior via Living Single e Friends para descobrir que o melhor que se tem a fazer é ficar longe do que os ultrapassados chamam de família, a atual vê para confirmar um instinto que tem vindo de fábrica.

E isso, seja de modo frio ou apaixonado, preto ou branco, justo ou injusto, deve-se comemorar.