Pela primeira vez cartaz do festival de Cannes traz cineasta negro

Dodô Azevedo

32 anos após o júri do Festival de Cannes, em 1989 presidido por Wim Wenders, dizer que “Faça a coisa certa”, não merecia vencer a palma de ouro porque “incitava violência” e “não entendemos o personagem principal decidir tomar a decisão de quebrar a vitrine da pizaria dos italianos”, Spike Lee torna-se o primeiro negro a ser o cartaz oficial do festival.

Mais que isso, ao ser escolhido como tema do cartaz oficial do mais famoso festival de cinema do planeta, torna-se a primeira referência pós anos 60 que é homenageada.

Há décadas, todo ano Cannes escolhe algum grande nome ou momento clássico do cinema mundial para estar em seu cartaz. Todos os que comparecem a Croissete compram os pôsteres, levam para seus países de origem, emolduram. O que o cinema é, ou como ele quer ser visto, está na coleção de cartazes de Cannes.

Até hoje, Mastroianis, Godards, John Fords, Marylin Moroes foram homenageados. Essa era a cara do cinema. Essa foi a imposta cara do cinema, imposta por exemplo, pelos pôsteres de Cannes.

Não mais. A cara do cinema já não é mais eurocêntrica branca. Nos últimos 6 anos, mexicanos venceram oscars de melhor direção, seguidos de Bong John Hoo, coreano, e Cloe Zhao, chinesa.

Essa é nova cara do cinema.

Em Cannes, há anos brilham rostos como os do chinês Jia Zhangke e o mauritanês Abderrahmane Sissako.

No pôster de Cannes em 2021,  a imagem de Spike Lee andando na croissette sob as árvores num dia de sol muito diz sobre estes novos rostos que o cinema tem hoje.

Spike Lee, esse ano, também é o presidente do júri de Cannes, que volta acontecer presencialmente neste mês.

O primeiro presidente negro.

Em “Faça a coisa certa”, a trama gira em torno da questão: pizzaria cujos proprietários são brancos racistas, funciona em um bairro de negros e ostenta em suas paredes pôsteres apenas de celebridades italianas brancas.

Como Lee assina nos créditos finais de seus filmes:  Ya digg? Sho nuff. By any means necessary.