Impeachment de Bolsonaro: iminente, justo e bom para a direita
Há hoje no Brasil uma esdrúxula possibilidade concreta no ar.
Assistirmos a esquerda comemorar a chegada de um general de direita à Presidência da República.
Embora os cartazes dos dois últimos atos realizados em todo o Brasil, contra Bolsonaro, peçam o impeachment do presidente e de seu vice, o general Mourão, se sabe que não há hipótese de os dois serem ejetados em um mesmo processo.
Caindo Bolsonaro, assume o general.
A extrema direita, a que levanta a bandeira da corrupção como só a ela pertencesse, já avalia que a gestão de Bolsonaro provou que “todo o sistema é corrupto e corrompe”. Já pensa em um reset.
Este reset é, na cabeça da direita que começa a abandonar Bolsonaro, o general Mourão que, assumindo, mantém Paulo Guedes, mantém quadros como o presidente de Fundação Palmares e traz para compor seu governo uma turma de militares “incorruptíveis” e “imunes ao centrão”.
Mourão também se apaziguará com a mídia. Torna-se, aos olhos dela, um cavaleiro, se comparado ao histérico atual presidente.
Enquanto a esquerda comemora, preparando Lula para 2020.
Todos vão dormir felizes no dia seguinte. Povo de esquerda convicto de que eliminou a direita do poder. Povo de direita convicto de que “agora vai”, porque limparam-se das trapalhadas de Bolsonaro.
Esquecendo que Bolsonaro, se impichado, emplaca entre seus eleitores, ainda muitos, não se enganem, a narrativa de golpe. De “vítima do sistema”.
O impeachment estará para as intenções eleitorais do bolsonarismo o que foi a facada em Juiz de Fora. Qualquer candidato improvisado por ele, estando impedido de concorrer, é fortíssimo contra Lula. Bolsonaro tem filhos senadores e deputados prontos para serem os mad dogs de 2022.
Lula, que sabe o perigo que corre com o impeachment de Bolsonaro, anda voando fora do radar. Por isso, ainda não engajou-se pessoalmente na ideia do impedimento de Bolsonaro.
O impeachment deixa até bolsonaristas conformados, “pelo menos o General Mourão assumiu, mantendo equipe e ideologia”. Seguros de que Mourão manterá tudo o que vinha sendo feito, até que em 2022 um indicado por Bolsonaro vença Lula nas eleições.
Enquanto isso, com Mourão, com militares no poder e nos braços do povo, ainda mais gente negra será morta em favelas. Com a benção da sociedade, encantada pelo vice general que nos salvará de Bolsonaro, intervenções do exército terão sinal verde em comunidades onde vivem milhares de brasileiros marginalizados.
O impeachment reacende também as esperanças da tal terceira via. Por isso, nos atos públicos do próximo sábado, teremos a chegada de figuras como Alexandre Frota e Joice Hasselmann e MBL, e um sem fim de eleitores de direita, arrependidos com Bolsonaro, começando a se apropriar dos atos. Usando-os para lavar suas consciências como contraventores doam cestas básicas para lavar dinheiro.
Como aconteceu em 2013, quando estudantes de esquerda que pleiteavam redução no preço do transporte público, viram seu movimento sendo tomado de assalto pela turma anti-corrupção, e sem partido.
É necessário, claro, que Bolsonaro seja impichado caso fique provado que cometeu crime. Até para estabelecer justiça com a presidenta Dilma Rousseff, que caiu por muito menos.
Mas as consequências disso, já sabemos. Ao contrário do que pensa, o Brasil é um país previsível, de dinâmica simples e repetitiva. Nossa seiva é arbitrária, violenta, classista, preconceituosa e conservadora. Ela arruma um jeito de perseverar, quando não empoderar-se ainda mais.
Se assumir o poder, o general de direita não terá sido o primeiro em nossa história a fazê-lo sem precisar disparar um tiro sequer.
O povo, até quem foi para a rua com outra intenção, terá contribuído.