Olimpíadas revelaram alternativa ao Brasil sudestino

É findo os Jogos Olímpicos de Tóquio. Esse evento improvável em tempos de pandemia, que nos relembrou (pra muitos revelou), um povo diferente do que a todo momento nos assusta em sua selvageria e ignorância. O povo que celebra em motociatas a própria bestialidade. Que acredita em voto impresso. Em Terra Plana. Um povo que têm posto tudo a perder. Os Jogos Olímpicos nos mostraram o Brasil vencedor. Preto e nordestino, como o baiano Genesson Honorato, convidado do Quadro-negro para escrever uma elegia. Agora, tudo é saudade.

 

E de repente, o Brasil que procurava estava diante dos meus olhos – Por Genesson Honorato, gerente de employer branding e D&I

Sempre que posso, ando firme e destemido. Mas não minto: Vez por outra, os golpes me sacodem e mais que a firmeza dos passos, levam também, aos pouquinhos, a certeza de que conseguirei chegar no meu destino. 

Contudo, teimo e sigo andando.

Nesses dias, atravessei um estado – Estado.

Mais do que um território, era um lugar de pertencimento, cujos habitantes se orgulhavam, se identificavam e estranhamente festejavam, juntos.

Demorei a entender do que se tratava, porém pude sentir que havia uma energia outra no ar.

Aparentemente a celebração se dava em torno de algo brilhante, brilhante!

Havia gritos, torcida, suspense, tensão, silêncio e de repente uma forte celebração.

Felicidade pura e genuína, esperança palpável e o retrato do Brasil de verdade, a cada medalha conquistada.

Me situei no tempo e espaço.

Reconheci nas Olimpíadas o Brasil que eu procurava.

Naquele momento confirmei que sonhar vale a pena e, como num passe de mágica, todos os insultos que ouvi perderam a capacidade de ferir.

O Brasil que eu procurava estava diante dos meus olhos!

“Impávido que nem Muhammad Ali.”

Por muito tempo, eu concebi esse lugar somente nos meus sonhos, mas como Max Plank já havia dito: tudo que existe no plano material, já foi ideia.

E cá entre nós, que ideia linda!

O povo do meu Brasil se orgulha, torce e vibra;

O povo do meu Brasil planta, colhe e cultiva;

O povo do meu Brasil, acredita na partilha.

E sobretudo, o povo do meu Brasil, não tem anseios autoritaristas.

Somos a premissa falsa, cuja conclusão é verdadeira!

Nos presumem sombrios, violentos e em frangalhos.

Nos apresentamos coloridos, solidários e prósperos.

E essa distinção existe, porque muitas vozes se dispõem a contar o Brasil, e se debruçam sobre as belezas vivas e contrastantes que existem nos recantos pouco iluminados desse país, e nós precisamos ouvi-las!

Os holofotes do que é visto, cultuado e enaltecido ainda são direcionados pelo pacto narcísico de uma elite confusa.

As Olimpíadas nos convidam a pôr os pés no chão, e vibrar com atletas que são o símbolo da verdadeira potência brasileira, de um Brasil de verdade, ocultado.

A despeito da cor, da raça, do gênero.

A despeito do sucateamento e das precárias políticas de acesso e incentivo ao esporte. 

A despeito de todas as vozes odiosas, fomos lá e fizemos história. 

Subimos ao pódio junto com as fadas. Fadas de um Brasil possível, e que está vivo. E, por uma semana, voltamos a sonhar. As ruas voltaram a vibrar e se orgulhar. Festejamos heróis e heroínas. Agora, nossas crianças sabem que podem ser: Ana’s Marcela’s, Hebert’s, Rayssa’s, Rebecas’s, Ítalo’s, Isaquias.

Ah Isaquias… muito obrigado por ter agitado as águas do Rio de Contas. Que saudade eu sinto da curuca que nos alimentava lá no bairro de Faisqueira, em Ubaitaba (Ba) onde morei na minha infância, vida difícil, mas de muitos sonhos nutridos.

Nossos atletas e suas conquistas gritaram o que de fato é mérito em seu conceito mais puro.

São nosso pré-sal.

O Brasil de verdade sempre esteve diante de nossos olhos, e seu valor, mais do que em índice de mercado, se mede em pessoas.

Como já sabíamos desde o início, o ouro é nosso, povo.