Poderá, como nos EUA, o voto negro decidir as eleições presidenciais no Brasil?

Há quem discorde, mas Trump caiu nas urnas porque perdeu votos de negros e ganhou votos contra da população negra que não vinha comparecendo às urnas. De fato, os republicanos perderam na Geórgia, estado tradicionalmente supremacista, por conta dos votos vindos do subúrbio de Atlanta, de maioria negra.

Há quem diga que o trabalho de lideranças negras, como a advogada Stacey Abrams, que liderando o projeto New Georgia, conseguiu convencer a 800 mil jovens negros do estado a registrarem-se como eleitores. O voto nos EUA não é obrigatório.

Aqui no Brasil, nossos jovens negros, em sua maioria, também não são engajados. Ontem, um jovem quilombola em situação de rua foi espancado no meio da rua, sob a luz do dia, por um supremacista bolsonarista (com o perdão da redundância).

Era para o país estar em chamas. Mais uma vez. E mais uma vez, só se fala nas intrigas palacianas.

O que é de se esperar de quem vive em palácios. Mas e o povo preto, cadê?

Culpa de não mobilizarmo-nos para incendiar o país, não temos. Sabemos muito bem o destino que temos quando nos insurgimos. O humorista André Marinho, branco, herdeiro, pôde impunemente, entre príncipes e barões, caçoar do bobo da corte que o Brasil elegeu para o cargo de presidente da República.

Até o privilégio da revolta é dado apenas a brancos.

Seguimos divididos, entre o cotidiano em igrejas evangélicas, que se aproveitam de nossa desgraça para escravizar nossas mentes, e a estreia de um novo reality show na TV aberta.

Mas o número de brasileiros negros dispostos a participar mais ativamente na política, só cresce.

O talk show de Mano Brown já repercute mais que o de Pedro Bial, que anos atrás deu a palavra a Olavo de Carvalho. Em um país colonizado e estruturado da forma que nós fomos, escolha parecida a  colocar gasolina em uma fogueira onde sempre no final queima gente preta.

A nova geração parece mais responsável. Mas ciente do que o Brasil é de fato. Um político negro da periferia, ainda mais se for mulher, tende a saber mais da vida do que um homem branco, seja de direita ou esquerda, que foi criado em apartamento. Soube-se detectar nas falas de Lula no podcast de Brown muito do racismo estrutural que obviamente também há na esquerda.

Essa nova geração, sempre conectada com quem veio antes, é composta por gente preta que entende que o Brasil é o jantar com Michel Temer e empresários barões-do-café em São Paulo, e é um jovem negro acoitado por um comerciante branco nas ruas do Rio Grande do Norte.

Para os brasileiros pálidos e castos, pode haver algo de diferente na atual conjuntura social brasileira.

Mas, para a população negra, polarização não é novidade.

E nunca houve 1ª, 2ª, muito menos 3ª via.

Resta agora ver se em 2022 iremos entender que, de inviáveis, podemos ser uma força eleitoral definitiva.

No Brasil, o voto é individual e obrigatório.

Mas antes, entender-se como coletivo é fundamental.