Antropóloga escreve sobre masculinidades negras e a importância da série Insecure
Expulso do reality show A Fazenda por grave violação de regras, o MC Nego do Borel mais uma vez galvanizou certa discussão, nas redes, entre os movimentos negros, à respeito de nossas masculinidades. Diversa da masculinidade branca e, principalmente, invibilizada, o que caracteriza masculinidade negra segue, para o mundo externo, algo não caracterizado. Antropóloga da UFF (Universidade Federal Fluminense), Thuani Cout viu na série Insecure, cuja trama segue Issa, jovem negra talentosa que após um relacionamento frustrado com um homem negro, sai em busca de si própria, sua voz e sua beleza. Solteira, ela irá conhecer outras masculinidades negras. E, segundo a antropóloga, deparar-se com as fragilidades destas masculidades. Sucesso de público e crítica, Insecure trouxe para o mundo pop questões como essa, que Thuani Cout observa em texto para o Quadro-negro.
Insecure e a visibilidade das masculinidades negras – Por Thuani Cout
Vulnerabilidade não é algo pejorativo: Essa é uma das fortes características da série Insecure, comédia dramática da HBO Max, que mostra masculinidades negras no auge de sua transparência. Mostrando situações reais em que homens sofrem, não só pelas consequências dos seus atos, mas também, por amor, saúde mental, oportunidades e violências.
Se levarmos em consideração a definição de masculinidade dada pelo antropólogo Michael Kimmel, que define a(s) masculinidade(s) como um conjunto de significados e comportamentos fluidos e em constante mudança, compreendemos que o “ser homem” pode se dar de várias maneiras, e em um processo de constante transformação.
Com isto, faz-se necessário que homens atualizem e reforcem constantemente suas masculinidades, e isto é feito ao interagir com outras pessoas, principalmente com outros homens. Se mostrar confiante, bem relacionado, viril, bem sucedido, tal como mostrar elementos opostos a estes, que podem ser considerados negativos, organiza, e hierarquiza, as diferentes pessoas e as diferentes formas de ser homem na sociedade.
Ora, se as próprias dinâmicas das sociedades ocidentais não nos deixam esquecer que a organização social se faz a partir de um sistema patriarcal, Insecure é um daqueles materiais que nos leva a um lugar crítico de observação sobre como diferentes homens acabam presos e prejudicados dentro de um sistema de relações onde eles, supostamente, e geralmente, têm o controle. Evidenciando, ainda, as diferentes perspectivas sobre o que e como é ser homem e negro em diferentes espaços e grupos sociais.
Ou seja, a série não coloca as masculinidades pretas como uma coisa só. Ela é rica em nos mostrar a multiplicidade do que é ser homem, e do que é ser preto. Transmite, por várias vezes, e com sensibilidade, o que é estar num corpo preto masculino.
Assuntos pertinentes e tabus como autoestima, saúde mental e expressão das emoções dos homens são tratadas na série com delicadeza, respeito e afeto, mostrando que, independente de, como homens, transitarem com mais flexibilidade que a mulher negra em uma cultura patriarcal (a série se passa em Los Angeles, EUA), ainda assim, ter uma masculinidade preta, e expressá-la da forma que for, cobra o seu preço.
Por estas e outras discussões ricas possíveis, acompanhar a série, atentando-se pros mais ricos elementos de valorização e afeto às masculinidades e feminilidades pretas, é definitivamente educativo. A 5ª e última temporada estreia na HBO Max no dia 24 de outubro de 2021, dá tempo de maratonar, e no final conferir afinal como histórias terminam.